Ad-Amin-Saul
I
É noite.
A cor da lua desnuda os corpos.
O silêncio corrompe os rostos.
Enquanto a brisa refresca.
O grupo evidencia a individualidade.
É noite.
Os homens não estão sós e não se confundem.
O grande espírito do deserto repousa sobre as rochas quartzianas.
Das túnicas agora secas desprende-se o odor do dia, do cansaço e da sede.
As mãos agora livres, esquecem-se no colo, aturdidas.
Já não há fome. Já não doem as pernas nem as costas no encosto do esquecimento da jornada.
É noite e vou ali!
II
Ad-Amin-Saul, poeta e contador das histórias dos seus avós, veste o branco sujo da poeira e calça nos pés as sandálias do caminheiro.
As barbas cinzento amareladas descem-lhe ao peito confundindo-se com os cabelos por onde passeiam gerações de piolhos.
Ad- Amin-Saul, já não tem idade.
Deixou passar o tempo...
Ali, iluminado pela lua, é mais um.
Perto de si dorme um dos seus filhos. É já avô. Depois os netos e os bisnetos.
Já não tem mulheres, enfastiou-se delas, e vestiu a pele da moralidade.
Ele é a voz da caravana, a voz do deserto ondulando.
Ad-Amin-Saul!
III
Vestem de lã e cobre. As mulheres
Remendam os trapos, cochilam, amamentam os filhos, catam os netos e falam suavemente num contínuo sussurro.
As mulheres.
Que o vento insulta e embravece são a continuidade.
Não têm honras, valem pouco mais que as cabras dos seus rebanhos.
Esperam o desejo dos homens. As mulheres.
Vestem-se da cor da noite.
Adornam-se de luar.
Enfeitam-se...
E enfeitiçam as areias que os pés dos homens pisam.
As mulheres!
IV
É cor-de rosa a manhã recém-vinda.
As dunas doiradas iluminam-se.
Ouve-se tosse, gritos, mescla de brados e risos, que o canto matinal acordou.
Enrolam-se os tapetes. Desmontam-se as tendas, desprendem-se os animais.
Voam abutres em redor dos restos.
Espojam-se os camelos.
Aliviam-se os úberes caprinos.
Alá seja louvado!
Canta Ad-Amin-Saul na direcção do berço solar.
Curvam-se os homens na oração.
De novo o dia.
De novo o deserto.
Marcha lesta a caravana!
V
Ad- Amin-Saul põe a mão direita sobre o ombro do primogénito.
Chegou a hora.
Não há tempo agora.
“ Segura tu meu filho a honra dos teus avós e deixa-me procurar o meu refúgio.
Alá prometeu-me a vida no oásis sagrado, onde as fontes brotam cristalinas e os frutos de doce sabor acalmam a vida de secura e fome.
Não há medo porque cumpri.
Orei e pratiquei o bem tal como o seu profeta, o Santo Maomé, nos ensinou.
Pega nos nossos rebanhos, nas nossas mulheres e nos filhos delas e, continua o teu caminho.
Já caminhei o necessário.
Agora és tu que segura o bordão.
Eu fico aqui.
O vento caridoso se encarregará de tapar o meu corpo com a areia que me empapou ao nascer.
O meu espírito não te seguirá pois encontrou já o seu repouso.
Vai!
Aí pela noite e pela manhã!
Aí pela tua pátria feita de panos!”
A caravana partiu.
O vento soprou.
O bando de abutres soube esperar.
A areia cumpriu o seu destino.
Alá seja louvado!
É noite.
A cor da lua desnuda os corpos.
O silêncio corrompe os rostos.
Enquanto a brisa refresca.
O grupo evidencia a individualidade.
É noite.
Os homens não estão sós e não se confundem.
O grande espírito do deserto repousa sobre as rochas quartzianas.
Das túnicas agora secas desprende-se o odor do dia, do cansaço e da sede.
As mãos agora livres, esquecem-se no colo, aturdidas.
Já não há fome. Já não doem as pernas nem as costas no encosto do esquecimento da jornada.
É noite e vou ali!
II
Ad-Amin-Saul, poeta e contador das histórias dos seus avós, veste o branco sujo da poeira e calça nos pés as sandálias do caminheiro.
As barbas cinzento amareladas descem-lhe ao peito confundindo-se com os cabelos por onde passeiam gerações de piolhos.
Ad- Amin-Saul, já não tem idade.
Deixou passar o tempo...
Ali, iluminado pela lua, é mais um.
Perto de si dorme um dos seus filhos. É já avô. Depois os netos e os bisnetos.
Já não tem mulheres, enfastiou-se delas, e vestiu a pele da moralidade.
Ele é a voz da caravana, a voz do deserto ondulando.
Ad-Amin-Saul!
III
Vestem de lã e cobre. As mulheres
Remendam os trapos, cochilam, amamentam os filhos, catam os netos e falam suavemente num contínuo sussurro.
As mulheres.
Que o vento insulta e embravece são a continuidade.
Não têm honras, valem pouco mais que as cabras dos seus rebanhos.
Esperam o desejo dos homens. As mulheres.
Vestem-se da cor da noite.
Adornam-se de luar.
Enfeitam-se...
E enfeitiçam as areias que os pés dos homens pisam.
As mulheres!
IV
É cor-de rosa a manhã recém-vinda.
As dunas doiradas iluminam-se.
Ouve-se tosse, gritos, mescla de brados e risos, que o canto matinal acordou.
Enrolam-se os tapetes. Desmontam-se as tendas, desprendem-se os animais.
Voam abutres em redor dos restos.
Espojam-se os camelos.
Aliviam-se os úberes caprinos.
Alá seja louvado!
Canta Ad-Amin-Saul na direcção do berço solar.
Curvam-se os homens na oração.
De novo o dia.
De novo o deserto.
Marcha lesta a caravana!
V
Ad- Amin-Saul põe a mão direita sobre o ombro do primogénito.
Chegou a hora.
Não há tempo agora.
“ Segura tu meu filho a honra dos teus avós e deixa-me procurar o meu refúgio.
Alá prometeu-me a vida no oásis sagrado, onde as fontes brotam cristalinas e os frutos de doce sabor acalmam a vida de secura e fome.
Não há medo porque cumpri.
Orei e pratiquei o bem tal como o seu profeta, o Santo Maomé, nos ensinou.
Pega nos nossos rebanhos, nas nossas mulheres e nos filhos delas e, continua o teu caminho.
Já caminhei o necessário.
Agora és tu que segura o bordão.
Eu fico aqui.
O vento caridoso se encarregará de tapar o meu corpo com a areia que me empapou ao nascer.
O meu espírito não te seguirá pois encontrou já o seu repouso.
Vai!
Aí pela noite e pela manhã!
Aí pela tua pátria feita de panos!”
A caravana partiu.
O vento soprou.
O bando de abutres soube esperar.
A areia cumpriu o seu destino.
Alá seja louvado!
Sem comentários:
Enviar um comentário