sexta-feira, 22 de maio de 2009

Folhas soltas



O meu sono


Nos bocejos do meu tédio caem gotas de saliva salgadas
Tão salgadas como as lágrimas que guardei
Como as palavras que não gritei e os beijos, os beijos que ficaram revoltos no ar…
Os pêlos eriçados do meu corpo branco e vermelho
Escondem medos e perguntas que ainda não formulei,
Reclamam-se eléctricos, na superfície da minha pele…

Já deixei de sonhar com Quixote, Rocinante e Pança.
O Santo Graal deve estar neste momento a ser vendido a preço de saldo,
Julieta, encontrou conforto nos braços de Midas,
Talvez, Francisco, ainda clame sob a bandeira de um grupo de ecologistas!
Os meus heróis de infância perderam-se no caminho!

Che, é hoje um produto de marting,
Gandi, provavelmente adormeceu com um charro na mão,
Lutter King, agita pateticamente a bandeira dos States.
E os meus heróis da adolescência perderam-se no caminho!

Foi tão breve o meu sono!

O despertador acaba de tocar o irritante pipipi.
Encaminho-me para a casa de banho onde despejo toda a raiva que acumulei,
Tomo um duche que me suja de cobardia,
Saio para a luz crua da manhã que me torna igual,
… feita à medida dos outros.

Executo todas as tarefas que me pedem,
Mesmo aquelas que não conheço a utilidade,
Sou produtiva.
Sou cordial,
Sou solícita,
Sou obediente,
Sou, sou, sou,
E não vivo o que sou
Porque me deixo cansar
e voltar a adormecer
Num sono sem sonhos.
Pesado
Calado
Apagado!

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