sexta-feira, 22 de maio de 2009

O caminheiro




A aldeia





Pára à entrada da aldeia.
Ela é toda branca por fora mas a penumbra convive com os homens que ali vivem.
Eles olham desconfiados o forasteiro solitário e põem-se em guarda.
O homem encolhe os ombros. Está habituado ao medo da diferença.
Junto de um velho poço de manivela retira da bolsa um bocado de pão endurecido e rói-o distraídamente.
Uma bola atrevida toca-lhe os pés. O rapazito que a jogou mantém-se à distância.
Olha para ele com o desejo de ir e de ficar.
O homem não se mexe. Que a venha buscar! Um passo, dois, uma pequena corrida e já está!
A bola regressou às mãos do seu Senhor.
Do bolso dos calções tira uma laranja, olha para ela. Olha para o homem. Estica o braço.
- Queres?
- Muito obrigado - diz o homem sorrindo por dentro.
A porta do conhecimento abriu-se.
- Eu gosto de laranjas. - Afirma o rapaz.
- Eu gosto do mundo. - Replica o homem.
Riem-se os dois. Não se sabe muito bem porquê. Mas os risos juntos têm outro som!
- Para onde vais? - Pergunta o garoto entre um sorriso maroto.
- Não sei. - Responde o homem com sinceridade.
- Estás perdido? - Volta a sorrir!
- Não. Estou a ver se encontro. - Esclarece.
- O quê?
- Não sei.
- Assim não podes achar o que queres!
- Pois não. Também não sei se quero encontrar o que desconheço...
- É maluco! - Pensa o rapazinho.
Acena-lhe com a mão e parte saltitante.
O homem reabastece o cantil e parte agora. Agora que a poeira tem consigo um riso infantil!

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