domingo, 17 de maio de 2009

O caminheiro


Não há estradas



Algures, os padrões de cor vão tornando as imagens visíveis. Primeiro são apenas poliedros translúcidos, depois arredondam-se desequilibrando as simetrias e, eis que chega o momento do Ser.
O cenário é agora um mar de areia e pedra. Não há colinas, apenas alguns picos aguçados que ferem o cobalto do céu. É difícil olhar directamente para ele, a luz solar é intensíssima e fere. Os únicos sons que se ouvem são; o estalido dos ossos que se esticam e o bocejo prolongado do homem que acorda.
É de manhã.
Chegou a hora de recomeçar.
O homem não tem idade, o corpo diz que é jovem mas a expressão serena desmente-o.
Com as mãos seguras pega no cantil e bebe a água. Por ora é o único alimento a que se permite. Enrola a esteira juntamente com a manta de lã, ata o rolo com uma corda fina rematando com duas laçadas sobrepostas.
Coloca o rolo nas costas, enfia a tiracolo o cantil e prende a pequena bolsa no cinto. Na cabeça, põe um lenço puído com nós nas pontas. Os pés estão calçados com uns ténis esfarrapados e tem na mão uma vara para ser um homem livre!
Dirige-se para Oeste. O sol já queima as suas costas. É um fardo mais... Da garganta, sai-lhe um rouquejar lânguido como um cântico de louvor. É a sua forma de saudar o dia.
As etapas do caminho são definidas pela resistência do corpo. Hoje a solidão vai ser sua companheira até ao lugar do repouso.
Não há estradas.
Apenas o traço imaginário do futuro.

Sem comentários: