sábado, 4 de abril de 2009

História d mim para ti ou histórias mágicas de reais acontecimentos


O gato comeu-te a língua?

Era sempre a mesma coisa. De mão dada com o pai ou com a mãe, Isabel Maria, ficava “muda” quando os estranhos lhe perguntavam coisas. E depois de insistirem, acabavam invariavelmente por lhe perguntar: - “então? O gato comeu-te a língua?”
Isabel Maria não compreendia por que é que os adultos tinham sempre que fazer tantas perguntas, ainda por cima algumas completamente parvas! Por exemplo: como te chamas? Para que é que eles queriam saber o nome? Depois em vez de dizerem: a Isabel Maria, diziam sempre; a filha do João ou a filha da graça! Outra pergunta que a irritava profundamente era sobre a sua idade. Não percebia qual a razão de a querem saber, só se era para confirmar que eram bem mais velhos do que ela! E ainda havia mais, como: sabes que és muito bonita? Claro que era bonita! Ela tinha espelhos em casa! Sabia, no entanto que havia pessoas mais bonitas do que ela, como a Marta ou a Ana. Por que não lhes diziam isso? Se calhar porque não as conheciam! Mas a pior, a pior de todas era quando se lembravam de lhe perguntar se ela queria ir para casa deles! Então ela não tinha pai e mãe? Não tinha casa? Não era nenhum boneco que se emprestasse aos outros! Além disso, sabia perfeitamente que os pais nunca a deixariam ir, disso tinha a certeza!
Não conseguia compreender os adultos. A mãe quando ela fazia aquela cara séria e ficava calada, desculpava-a com:”sabes, é muito tímida!”.Tímida, nada! O que ela não queria mesmo era responder aos amigos dos pais. Mas a mãe, naquela maneira de ser, sempre simpática, ia respondendo por ela. O pai, era pior. Ficava muito aborrecido, dizia que era má educação não responder às perguntas que lhe faziam. Bem gostava de ver se os pais também sabiam dizer se eram bonitos ou feios, gordos ou magros, ou quantos anos tinham! Algumas vezes tinha vontade de também ela perguntar aos pais se as perguntas dos adultos também eram educadas!
Isabel Maria, queixou-se disso às melhores amigas lá da escola, a Marta que é toda despachada, manifestou a sua opinião: “ Coitados dos adultos! Não têm imaginação! Mas a Ana, interveio dizendo: “Eles querem ser simpáticos connosco, só não sabem o que hão-de dizer!”
Mas Isabel Maria não ficou satisfeita e, um dia resolveu inverter os papéis. Por acaso estavam a almoçar no restaurante. Uma das amigas da mãe que também, lá estava, veio ter com eles à mesa. Os pais convidaram-na a sentar-se e acompanhá-los no almoço e o convite foi aceite imediatamente. Era uma mulher grande, com o cabelo pintado de louro, uma boca que ia quase de orelha a orelha. Logo que se instalou, Isabel Maria, com um ar muito sorridente perguntou:
- Como te chamas? - A mulher que estava desprevenida, gaguejou mas respondeu que se chamava Joana. Isabel Maria continuou:
É parecida com o seu pai ou com a sua mãe? - Desta vez foi a mãe que abriu a boca. Mas a tal Joana respondeu:
- Dizem que é com a minha mãe.
- Quantos anos, tem? – O pai até deixou cair o garfo ao chão.
- Trinta e quatro.
- Olhe que não parece! A minha mãe tem a sua idade e parece mais nova, porque é que pinta o cabelo?
- Bem…sabes…porque gosto.
- Deve ter amigas mais bonitas do que a senhora. – Os pais estavam vermelhos sem saber o que fazer.
- Não quer ir viver lá para nossa casa?
Silencio total.
- Não responde? Será que o gato lhe comeu a língua?

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