sábado, 18 de abril de 2009

Telmo, o Marujo

Hélio, o Guardião das Portas Sagradas
- Não Telmo, tu já não és frágil. E, quanto às tentações e medos, dominá-los-ás como aprendeste. O espaço que alcançares depende do que tu decidires. Ninguém te imporá nenhum, é a tua liberdade e a tua intuição que decidirão.
- Acreditas que estou pronto?... então estou. Acredito hoje mais em vós do que acreditava em menino.
- Vem então, meu filho. – Hélio ergueu-se e fez um sinal para que eu o seguisse. Dirigimo-nos ao Portões Dourados.
Eu não escondia a emoção, não sentia medo porque me sentia protegido mas, conjecturava de mim para mim sobre o que haveria por detrás daquelas portas.
Com um gesto quase dramático, Hélio agarrou as maçanetas e puxou-as. Sem qualquer ruído elas abriram-se de par em par, deixando-nos passar para depois, se fecharem de novo.
Um vasto campo verde e amarelo estendia-se à nossa frente. Um caminho desenhado em arenito branco traçava-nos o destino. O ar que se respirava era puro, quase se sentia um sabor doce em cada inspiração. E, para minha alegria, o céu era azul! Azul forte como o azul luminosos da minha infância!
- Este é o campo do mundo onde os seres são apenas felizes. Aqui não há anseios, nem perguntas, nem decisões. É um espaço apenas que serve a contemplação e que permite ao espírito que se exercite. Esta é a estrada que nos leva à Casa da Luz Eterna. Ainda não poderás entrar nela mas, poderás apreciá-la de fora e, se passares as provas, poderás um dia ser seu convidado e repousares sob o seu tecto. Vem, vem visitar os seus jardins, sentar-te à beira dos seus lagos, beber, se quiseres, das suas fontes. Vem conhecer um pouco da felicidade suprema que te espera um dia.
Eu sabia que Hélio era um Seguidor da Fé, tal como Jerónimo, mas nunca me passara pela cabeça ser através dele que iria conhecer a Felicidade.
- Diz-me por favor: esta felicidade só é possível com o seguimento da Fé? Eu ainda a desconheço…
- Tu já conheces muitas coisas, coisas que te tens esquecido de recordar, a Fé é a certeza de todo o Conhecimento e de todo o Serviço. Lembras-te quando tu eras uma criança de te sentares na muralha da tua cidade à espera do navio que te levasse pelo oceano fora? Às vezes limitavas-te a observar mas outras vezes, descias até eles e tocava-os como se os afagasses. Lembras como acreditavas que um dia partirias num deles?
- Lembro-me… Foi há tanto tempo…
- Lembras da convicção com que defendeste o teu desejo e mesmo contra a vontade da tua mãe e pai, embarcaste?
- Sim, ninguém podia arrebatar-me o sonho…
- Lembras-te como viveste os momentos de confusão de toda a tripulação e arranjaste forças para resistir e desviares-te das ciladas?
- Sim, Hélio, lembro-me de tudo isso!
- Pois, meu amigo, foi a Fé que te guiou. A Fé que te deu argumentos e energia para alcançar o objectivo a que te propuseste. Quando acreditamos tudo é possível!
- No entanto eu não tinha fé no sentido religioso, pelo menos do tipo a que a religião de meus pais exigia. Uma fé feita de dogmas sem sentido e à revelia dos sentimentos!
-Os dogmas foram impostos por homens diferentes de ti. As razões da Fé não se explicam, só as das crenças, porque essas vêm de um passado longínquo que se transmitem de pais para filhos. Por isso não tinhas a que te agarrar e fizeste do mar a resposta à tua Fé.
Os valores desenvolvem a dimensão da Fé e ela, alimenta-os, sublima-os.
Hoje tens conhecimentos em que não usas somente os teus sentidos físicos. Que outros sentidos existem em ti e que proporcionam outras formas de percepção? Quanto mais evoluído é o ser vivente, mais ele utiliza esses sentidos subtis deixando que os materiais adormeçam. Com a Fé aprenderás a conhecê-los melhor e verás mais longe.
- E, é aqui, neste lugar que eu vou aprender a reconhecer a minha fé?
- Telmo, vieste aqui apenas para vislumbrar a tua felicidade e descobrir como podes escolher o cenário da tua nova vida. Eu dei-te no entanto, a felicidade que conheces. Sabia a saudade que tinhas do teu céu azul, dos espaços verdes e cultivados, dos caminhos de areia. Foi isso que encontraste. A felicidade é desenhada por nós mesmos, embora às vezes o não saibamos!
- Então eu posso perspectivar a felicidade com a inha imaginação individual?
- Sim, e com a Fé em a alcançares!
- Ah, Hélio, leva-me depressa a uma praia de águas azuis e verdes e deixa-me mergulhar nelas como outrora!












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