sábado, 11 de abril de 2009

Telmo, o marujo

Hélio, o Guardião das Portas sagradas

Ceávamos todos juntos como há muito o não fazíamos, lembrei-me a primeira vez que o fizemos, ainda eu era pouco mais que uma criança.
Os seguidores não eram as criaturas desconhecidas e distantes de outros tempos, naquele momento sentia-os parte de mim, respiravam comigo o mesmo ar e comíamos os mesmos alimentos.
Hélio, o Guardião das Portas Sagradas e representante do grupo, pareceu-me um pouco diferente do costume. Estava eufórico e a maioria de nós desconhecia a razão. Talvez apenas Jerónimo soubesse o que se passava pois, comentava de vez em quando que as Portas Sagradas em breve se abririam.
A minha curiosidade estava espicaçada ao máximo. Durante toda a minha estada jamais vira abrirem-se as Portas e nunca entendera muito bem o que nos separava. Hélio era o único a poder tocá-las e isso tornava-o o detentor do mistério.
Como sempre, o velho Seguidor apresentava-se de modo sóbrio com a sua túnica azul comprida a cobri-lhe o corpo imponente. No peito rebrilhava um enorme círculo dourado raiado de diamantes, jóia que nenhum dos outros possuía. A sua barba cobria somente o queixo saliente dando-lhe um ar distinto.
Por norma ele era pouco comunicativo mas naquele dia estava muito falador e risonho, no fim da ceia quando todos estavam bem-dispostos, fez o anúncio solene:
- Meus irmãos, sei que não consigo disfarçar a minha alegria, que o meu entusiasmo transborda por isso quero esclarecer-vos sobre o que se passa. Quero partilhar convosco a minha felicidade e, acima de tudo, dar a Telmo o maior presente que alguma vez recebeu.
Fiquei atónito, era a última coisa que esperava! Que fosse eu o objecto da sua generosidade! Até porque não percebia qual era a razão de tal dádiva!
Com um olhar carinhoso, Hélio, esclareceu-me:
- Meu filho, quando chegaste aqui eras apenas uma criança curiosa e valente, sonhadora e persistente, qualidades essas que percebemos logo serem as indicadas para cresceres. Hoje, maior do que tu próprio ousarias pensar, encontras-te próximo das tuas provas finais. Foste alimentado e treinado para as passar e nós acreditamos que não nos decepcionarás.
- Mas… Guardião, a que provas me exporão? Que espaço alcançarei depois delas? E… se eu falhar? Sou apenas humano, frágil de nascença e sujeito a tentações e medos.






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