sábado, 25 de abril de 2009

Histórias de mim para ti ou Histórias mágicas de reais acontecimentos


As fadas



Vocês acreditam em fadas? Pois, eu acredito. Eu já vi fadas, já falei com elas, fadas a sério! Eu conto-vos como foi:
Um dia de manhã muito cedo, ainda o céu estava cor-de-rosa, resolvi fazer um passeio pelo pinhal que fica perto da minha casa. A princípio não aconteceu nada de especial, ia muito tranquila por um caminhozito de areia, acompanhada apenas pelos pássaros, alguns coelhos esquivos e umas quantas abelhas que teimavam em me cumprimentar. Depois, não sei porquê, assustei-me. Ouvi uns risos, umas cantilenas, umas vozinhas. Curiosa como sou, desviei-me do trilho e entrei pelo mato adentro. Não tinha dado ainda uma dezena de passos, quando à minha frente distingui perfeitamente, três lindíssimas meninas. Pareciam crianças, pelo menos pelo tamanho, estavam de mãos dadas fazendo uma roda, não deram logo por mim, por isso pude assistir àquilo que me parecia uma brincadeira. De repente, uma delas olhou para mim. Todas pararam e, depois de me observarem por uns momentos acenaram-me. Fui ter com elas, eram tão engraçadas!
Perguntaram-me em coro o que é que eu estava ali a fazer, e eu tentei explicar que andava a passear e que fora atraída pelas vozes delas. Acho que entenderam, mas uma segredou qualquer coisa às outras e a seguir pediram que me apresentasse.
- Bem, chamo-me Luísa, moro aqui perto, como é Primavera e o tempo está bom, resolvi apanhar o ar fresco da manhã.
- E tu não sabes que este lugar é proibido aos homens?
- Mas eu não sou homem, sou uma mulher! Não se nota?
- Quando dizemos homens, queremos dizer seres humanos. Não és um ser humano?
- Agora quem fica confusa sou eu! Claro que sou! E vocês o que são?
- Somos fadas! O que é que achavas que éramos?
- Fadas? Fadas a sério?
- É estranho…- disse uma que tinha o cabelo todo aos caracóis castanho muito escuros e uns olhos rasgados em forma de amêndoa.
- Lá isso é! Os humanos não costumam ver-nos… - acrescentou outra que tinha cabelos louros, muito lisos e compridos que faziam lembrar uma cortina de fios de ouro. Essa tinha os olhos redondos, tão azuis como o azul do céu em dis de Verão.
- Mas já que nos vê e nos ouve, penso que tem todo o direito de saber mais coisas sobre nós. – Decidiu a terceira que era ruiva, de cabelo cor de mogno separado em duas tranças que lhe chegavam à cintura e cujos olhos eram verdes, verdes como o fundo de uma lagoa.
Eu estava abismada, completamente boquiaberta. Não sabia se estava a a sonhar ou se era mesmo verdade o que estava a acontecer. Mas não dei parte fraca, mantive-me no meu lugar, direitinha, com o ar mais natural deste mundo.
Convidaram-me a sentar-me junto delas numas pedras que ali estavam.
Sentei-me. Então a fada do cabelo castanho apresentou-me as outras, indicando primeiro, a do cabelo louro e depois a do cabelo ruivo.
- Eu sou a Fada da Madrugada, esta é a Fada da Meia-Noite e esta é a Fada do Entardecer. Ficas já a saber que quando um homem, ou mulher, nos vê, tem o direito a receber um favor nosso. Portanto cada uma de nós vai conceder-te um desejo.
Devo ter aberto e fechado a minha boca e feito uma cara muito esquisita, porque as três começaram a rir às gargalhadas.
A Fada da Meia-Noite perguntou-me então que desejos, queria eu ver satisfeitos. Fiquei atrapalhada. Passamos a vida toda a ter desejos, a maioria, sonhos que nunca os vimos realizados e, agora, de um momento para o outro, as fadas propunham-se a realizar três deles. Nem sabia o que escolher…
- Despacha-te, daqui a pouco temos que nos ir embora. E não podes perder esta oportunidade!
Primeiro pensei em pedir saúde, trabalho e amor como toda a pessoa sensata, mas vi passar ao longe um cão com a perna a arrastar a perna ferida, sem medir o que ia pedir, desejei que o cão se curasse. A seguir reparei que grande parte do pinhal estava deserto por causa do incêndio do Verão passado e desejei que todo aquele espaço se transformasse num local muito verde e vivo, finalmente, reparei que quase não havia ninhos nas poucas árvores que sobreviveram e desejei que todo o pinhal se tornasse num paraíso para as aves e para todos os animais que ainda conseguiam viver ali. Fechei os olhos e as fadas desapareceram sem que eu desse por isso.
Quando os abri, ouvi o ladrar satisfeito do cão que corria para mim e me veio lamber as pernas e as mãos. Sorri porque ele tinha recuperado a sua perna. Voltei para casa e à hora do almoço, o meu filho mais novo chegou a casa muito excitado porque no local onde tinha havido o incêndio cresciam agora novas árvores. À noite, quando me preparava para fazer um serão, ouvi um leve batimento no vidro da janela da sala, era um enorme bando de pássaros que numa coreografia mostravam o seu agradecimento.
Confesso que as lágrimas me vieram aos olhos, e disse baixinho:
- Bem hajam, fadas amigas!
A partir daí passei a acreditar em fadas.
E vocês? Agora também já acreditam nelas?

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