sábado, 11 de abril de 2009

Páscoa



Não me considero católica apostólica romana já que não comungo de muitos dos seus dogmas. Embora educada, como o comum dos portugueses, sob a orientação da Igreja Católica, nunca consenti em depender totalmente dela.
Tem graça, durante toda a minha vida tenho passado momentos de aproximação e outros de afastamento em relação à Igreja Católica. Reconheço a sua importância na orientação moral e social da sociedade e o seu papel histórico que desenhou a geografia política do mundo em que vivemos. Não podemos portanto ignorar.
Na minha deriva pelo espiritual, pela ética e pela tentativa de me encontrar interiormente, procurei aprender o máximo sobre outras religiões e cheguei à conclusão que a fé é um sentimento transversal a todas, que a necessidade de contactar a divindade é igual, que o poder hierárquico de todas a igrejas comete os mesmos erros e tem as mesmas ambições. Que os crentes apenas querem ver resolvidos os seus problemas materiais e espirituais, que nem sempre agem em consciência ou são coerentes com o que aprenderam nas suas doutrinas. No entanto, não posso deixar de reconhecer que a Igreja Católica é ainda aquela que permite maior liberdade de ser e de estar.
Isto veio à baila porque hoje é Sábado de Aleluia e aqui em Braga, a Páscoa é festejada com um vigor ainda maior que o Natal. De facto, é a Páscoa que cimenta o dogma da ressurreição e a divindade de Jesus. Logo, é natural que seja esta a maior festa dos cristãos. A Igreja, desde os seus primórdios, demonstrou grande inteligência na escolha dos tempos e lugares a santificar por isso, aproveitou a época da Primavera para esta festa. É o momento da renovação da natureza, o tempo em que se torna visível o resultado do trabalho dos homens. É um tempo de fecundidade e alegria, da promessa dos dias de abundância. Mesmo os menos sensíveis sentem que esta época lhes proporciona um bem-estar diferente, uma espécie de euforia.
É também a resposta e o incentivo para que cada homem se renove, se redima dos seus erros e se proponha a uma nova vida. Depois do recolhimento que a Quaresma oferece, existe a possibilidade de se limpar e, qual “noivo” poder entrar numa nova vida. É interessante, todo este pensamento, em que cada um de nós tem a oportunidade de agarrar novos desígnios. Não há dúvida que dois milénios de estudo e organização têm os seus efeitos!
O cristianismo soube ir buscar ao pensamento da Antiguidade a base com que consolidou a sua doutrina, no fundo não trouxe ensinamentos novos, mas conseguiu aquilo que outras religiões não conseguiram; a acessibilidade da religião. Soube agregar o pensamento e a cultura de todos os povos e aplicar os seus dogmas de forma a tornarem-se universais.
Não está portanto aqui em causa o que penso da Páscoa como acto religioso mas, o que penso da Páscoa como símbolo. É realmente o OVO, o princípio material do gene pré-existente do Ser. E isso é que é fabuloso continuar a viver.
Feliz Páscoa para todos nós.

Sem comentários: