sábado, 25 de abril de 2009

O Caminheiro


A vitória sobre os pássaros



1.O Mundo parou agora


O Mundo parou agora.
Acabou de se preparar para a reflexão.
Os sonhos adormeceram por enquanto e ficaram guardados atrás do alçapão da memória.
Neste momento inspira e expira para iniciar o transe. Devagar. Muito devagar, para que a transição se faça sem dor.
O tempo coalhou-se formando pequenos grânulos de nuvens. Já houve tempo em que o céu azul se rendilhava de branco! Hoje não! Agora é o próprio tempo que se inquieta.
Tudo permanece em silêncio. Um silêncio que fala sozinho consigo mesmo, onde a fronteira do que é real e do que é irreal se esbatem, como um horizonte, distante, estendido para além de tudo o que os sentidos físicos possam perceber.
Ali está ele levitando ligeiramente.
O pó debaixo dele comprime-se contra a terra.
Os ramos da árvore que o cobrem nem estremecem.
Nenhum insecto se atreve a perturbá-lo.
O seu corpo toma a forma da escultura que, esculpida e polida, se exibe em perspectiva de movimento. Não se desvia um milímetro da forma inicial.
Ele está e não está.
Para além de si próprio percorre em velocidade vertiginosa o espaço indimensionável.
Um espaço em que tudo o que acontece só é penetrável no seu espírito. A razão aqui não existe. É transportada no ar para mais tarde se materializar.
Mas há limites? Sim. O limite do querer que fica ainda desperto. Aonde vai?

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