domingo, 8 de fevereiro de 2009

Amadeu de Sousa Cardoso
5. Sentada no muro que separa a certeza da interrogação, respiro o ar frio da manhã. E olho em volta…
O branco dourado da luz do dia recém começado fere-me um pouco a vista e o vento aguça-me os ouvidos. Mas mais importante do que ver e ouvir, é sentir também com os outros sentidos que possuo:
Os passos apressados dos madrugadores, ou os arrastados dos noctívagos, o ciciar de ninhos escondidos entre a folhagem, um cão ganindo, uma gata com cio.
Aroma de pedras húmidas, perfume de canteiros floridos, cheiro do café acabado de fazer.
A minha roupa tocando-me o corpo, o arrepio na minha pele.
O gosto da minha boca.
Para cá do mundo também há estradas e becos, cruzamentos de espera e rotundas…
Armadilhas e teias onde os incautos se perdem. Túneis que nos levam à luz.
Para lá do muro, trilhos ignorados, provavelmente bordejados de cardos e tojos onde os pés se magoarão, onde as dúvidas são feitas de encantos e sortilégios.
O vento empurra-me para lá!
O muro é estreito e baixo, vá lá, comprido… dá a volta ao universo que já conheço.
Não sou capaz de descer.
Não sei que lado escolher.

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