sábado, 14 de fevereiro de 2009

Telmo, o marujo

Olhar como Gisela (2º parte)

Primeiro, uma figura fluida, não se lhe percebendo feições pois, toda ela era cor onde as formas se adivinhavam apenas pela cintilação emanada de si. Espantei-me e perdi-me de mim porque me nasceu uma emoção que nunca sentira; era amor e doçura, liberdade e atracção, uma vontade de chorar e de rir sem saber por que razão! Deixei-me atrair para esse mar de ondas coloridas e embalei-me ao som de uma melodia estranha até cair numa espécie de sonho. Entrei num espaço onde nada me limitava, suspenso, flutuava naquele meio e interagia com a figura principal através de diversas luzes de um espectro de cor desconhecido e intenso. Não imagino sequer o tempo que demorei naquele limbo tão estranho mas, quando a consciência me acordou e me fez estremecer, fui atirado violentamente para o interior do meu corpo e acordei caído junto ao lago. Ainda tive tempo de ver as águas cobrirem aquele mundo qual cortinas brancas caindo sobre a liquidez das imagens. Sentia-me frágil, trémulo, tinha o meu rosto molhado de lágrimas e a garganta arranhada e seca.
Gisela estava junto de mim, nunca me abandonara, e dava-me a sua mão para me ajudar a erguer. Sorria, mas o seu sorriso não era de alegria, era antes de cumplicidade e também de compaixão.
Quando consegui falar perguntei-lhe porque me trouxera até ali e o que significava tudo aquilo. Disse-lhe ainda que depois de ter presenciado aquela maravilha, mais nada no mundo me pareceria belo, tudo para mim, a partir daquele dia, seria irremediavelmente comparado e tornar-se-ia grosseiro, incompleto e imperfeito. Até ela, a mulher da minha admiração!
- Apenas mostrei a tua e a minha pequenez perante aquilo que um dia poderemos ser se regarmos com esperança, virtude e amor toda a nossa vida. – Respondeu-me Gisela suavemente.
Compreendi que jamais seria feliz, a ignorância fazia o meu mundo acessível, depois do que vivera, percebia quão longínqua era a perfeição, desanimava, deixava cair os meus braços perante a grandeza da Obra! O esforço teria que ser eterno! E descobri também em mim a cobiça, o desejo de possuir parte da beleza transcendente que vislumbrara. Por isso voltei a chorar, num choro que me rompia por dentro, me magoava e me arrancava soluços e gemidos como nunca me acontecera.
A minha Seguidora, manteve-se serenamente a meu lado dizendo:
- Chora, Telmo, não esqueças que tudo é possível se acreditares, o teu espírito crescerá e saberás procurar a beleza que pretendes alcançar. De ti germinarão flores, as mais belas flores, que serão o retrato de ti mesmo. Tu, e só tu, poderás determinar a metamorfose da tua alma e descobrires a forma a dar-lhe. Não te envergonhes da cobiça que sentes em alcançar o que desejas, é legítimo, pois não é para possuir a materialidade, mas para adornar o teu espírito! Necessitas para isso de um amor infinito e incondicional, de desviar de ti os pensamentos mesquinhos. A Eternidade é um caminho e tu, nós, e todos os que existem neste processo de evolução, fazemos parte dela. E, é por essa estrada que avançamos e nos unimos, mesmo que os nossos passos nos pareçam curtos e lentos avançamos nessa via ascendente ao destino glorioso que nos espera.
Recolhi as palavras de Gisela no meu peito e saí com ela amparado ao seu ombro.

Sem comentários: