sábado, 7 de fevereiro de 2009

Gauguin
2. Depois de todo o esforço que fiz para atingir o socalco onde me encontro, respiro fundo e, seguro o batimento do meu coração.
Agora sim, posso contemplar a profundeza do vale salpicado de variegadas cores. Em torno de mim e para cima, os picos acerados das montanhas feridas dizem-me que é possível.
Leva-me a tentação, a desejar o colo da terra-mãe, quente, fundo, encostar a minha cabeça e ouvir as cantigas de embalar meninos que afastam os sonhos maus.
Eu sei, sei que só rasgando a pele das mãos, dos joelhos, poderei subir. E, lá de cima, erguer ainda mais alto o meu olhar, respirar o ar sem mancha que envolve o espaço.
Mas por enquanto espero. Espero e recapitulo as veredas que pisei e me trouxeram aqui.
Auroras, amanheceres, ocasos, entardeceres, sucedem-se uns aos outros para poder entender o desfiar do tempo.
É bom estar aqui, perturbar-me com o eco da minha voz que ricocheteia das paredes de rocha. Sinto fome de palavras, das palavras de outras vozes, de ser penetrada por elas.
E o meu anseio é tanto que as oiço sem conhecer a sua origem ou meta. Vêm como poeira, desprendem-se das pedras, das ervas ou, talvez de mim própria. São como pensamentos materializados em ondas vibratórias e, retornam para mim.
O caminho é áspero e infinito, mas eu acredito em mãos estendidas à chegada.
Quem me quer agarrar o braço?

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