terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Jorge Barradas
Os Grandes Olhos

Os Grandes Olhos que tudo vêem ergueram de imediato as suas pálpebras e com as suas íris profundamente escuras dirigiram-se ao misterioso objecto.
Os Grandes Olhos nem sequer pestanejaram, apenas as suas pupilas se dilataram.
No ponto visado estava um ser ridiculamente pequeno.
Um homem!
Esse homem arrastava um fardo volumoso embora leve.
Todo o corpo se flexibilizava para que a força e o equilíbrio se conjugassem.
Por vezes parava nesse percurso e enrolava-se sobre si mesmo chorando a sua fraqueza. Outras vezes, ao conseguir deslocar-se por breve espaço interrompia a tarefa e regozijava-se.
O fardo ia alterando a forma tornando-se menor, quiçá mais pesado.
A linha imaginária era sinuosa, com curvas apertadas, e declives íngremes.
Mas o homem na sua actividade sem fim, prosseguia, levando-o consigo.
Quando chegou perto dos Grandes Olhos, ele trazia apenas um grão de areia decuplicando o peso inicial.
Quase sem forças e apenas com a estratégia e a persistência, o homem num último arranque, atirou-o para a frente.
Os Grandes Olhos fecharam-se e a Grande Boca abriu-se deixando que a língua vermelha se estendesse como uma passadeira até aos pés do homem.
Só nesse momento o homem respirou fundo e, e pisando docemente a língua entrou dentro da boca.
A boca fechou-se.
A garganta engoliu.
E o Grande Rosto em que estavam implantados os Grandes Olhos, distendeu-se num sorriso, tornando-se maior!

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