domingo, 22 de março de 2009

Telmo, o marujo

Catarina, a incorruptível

Embora consciente do meu estado adulto, continuava a sentir-me incomodado por ter que abarca dois mundos diferentes; aquele de onde viera para onde iria em breve e, este no qual vivia temporariamente e que me dera o sentido de serviço e o conhecimento.
Quer quisesse, quer não, sentir-me-ia sempre deslocado em ambos. Tinha a certeza que, a liberdade e a paz que usufruía naquele momento, estavam ameaçadas pelo futuro cada vez mais próximo. Esta precariedade provocava uma ansiedade muito grande.
Portanto, aproveitava todo o meu tempo para acompanhar os Seguidores em suas tarefas, eram a minha família e eu queria estar o mais possível com eles.
Crescera por dentro e por fora, via a infância de uma forma remota mas sentia que jamais seria suficientemente confiante para me integrar em qualquer dos mundos.
Era frequente deambular pelo jardim meditando sobre o espaço que ocuparia no projecto dos Seguidores. A via mais estranha era a da Fé. Talvez por isso, um dia me enchi de coragem e procurei Catarina, também chamada a incorruptível.
Não tinha a beleza angélica de Gisela, a simpatia de Helena, nem o jeito maternal de Irene. À primeira vista não passava de uma mulher comum e discreta, de estatura média e traços vulgares, no entanto, esse aparente ar apagado acabou por me despertar a curiosidade.
Encontrei-a no lugar habitual, por cima do dormitório dos colaboradores. Era uma cela exígua pintada de branco. O único adereço para além da cama, era um tapete de lã colorida. De resto, era o despojamento absoluto.
Deixou-me ficar ali à porta, de pé, enquanto se mantinha de costas olhando um ponto vago para além da fresta que servia de janela. Eu sabia que ela dera pela minha presença e que ouvira a minha saudação, fiquei então aguardando respeitosamente que me dirigisse a palavra.
Quando me sentiu mais tranquilo convidou-me a entrar e a sentar-me junto dela no tapete.
- Seguidora, há muito que persigo esta dúvida: que nuance da Fé segues tu? Vejo-te com pouca frequência, vives praticamente isolada, como alcanças os teus objectivos?
- O que me está destinado fica do outro lado, daquele que oculta na noite… mas, reparando em ti vejo que já te encontras preparado para compreenderes. Vem comigo.
Olhou fixamente para mim e senti um impacto violento, quase doloroso. Soltei-me do corpo e logo me encontrei frente ao outro eu de Catarina. Durante algum tempo senti-me agoniado e numa vertigem, vi-me embrulhado num turbilhão de sensações. Apesar disso não senti medo porque Catarina estava a meu lado.








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