domingo, 15 de março de 2009

Temo, o marujo

A Ilha do Conhecimento (5ª parte)

A escola das Artes do Espírito ficava num amplo vale, todo ele um jardim! Cada árvore, cada canteiro de flores, formava uma unidade que nos proporcionava experiências emocionais. Diversas esculturas orlavam as alamedas e praças. Os edifícios também tinham para lá da sua função, uma traça diferente de modo a fazer um todo com o ambiente em que se situavam. Aqui o mais importante era a linguagem artística e, ela tão eloquente que pessoas como eu, sem qualquer conhecimento se sentia por vezes intimidadas. Descobri portanto que ainda teria muito que aprender naquela escola.
Não havia aulas formais, aliás, como nas escolas anteriores. Mas em todo o lado, a qualquer hora, havia concertos, bailados, saraus de poesia, representações dramáticas. Tanto nas paredes dos edifícios como no interior deles, expunham-se obras de arte que iam da pintura à escultura, da ourivesaria à cerâmica, enfim, era um mundo de coisas belas que acerava o espírito e abria as brechas da alma que levavam o espectáculo da vida para dentro de nós. Inundei-me de prazer e bons sentimentos, havia vezes que chorava sem saber porquê, lágrimas quentes e saborosas que escorriam por excesso de sentimentos, outras, tinha que me tocar par ter a certeza que estava acordado e não num sonho.
Hugo desta vez acompanhou-me durante todo o tempo que ali estive e por essa razão uni-me a ele muito mais do que aos outros Seguidores. Aprendi a manifestar os meus sentimentos e afectos com ele, não era raro passearmos juntos abraçados. Era um amor único! Um amor feito de cumplicidade e compreensão. Ainda bem que não havia a medição do tempo como no meu mundo natural, ali, não havia urgência, apenas o desfrutar das maravilhas.
Aprendi a reconhecer a vibração da minha alma ao som da música, das palavras ou das formas. E, quando me senti saciado terminei a minha formação. Quando saí, o mundo cá fora tinha outro sentido, um sentido que percepcionava de um modo mais inteiro toda a minha consciência. A Porta da Sabedoria entreabrira-se para mim, deixara-me espreitar um universo melhor porém, não me estava destinado ainda transpor o seu limiar…
Regressei pois com Hugo à Ilha dos Seguidores. Só agora reparava que o meu ombro roçava o ombro do meu amigo, as minhas passadas acompanhavam as suas, com a mesma força, a mesma segurança. Tinha-me feito homem quase sem dar por isso. Jovem é certo, mas um homem!
O futuro aguardava-me sem medos nem inquietações, a maré cheia das experiências tomava-me e o ondear que sentia dentro de mim era apenas o fluxo e o refluxo do meu pensamento e emoções. Desaguava agora num mar gigante que se estendia para lá do horizonte visível, um mar onde as rochas eram as poucas certezas da vida, e elas emergiam, altas, poderosas e sábias!

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