segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Telmo, o Marujo

2. Bartolomeu

Certa manhã, Josias apontou para o largo e mostrou-me um belo navio ancorado.
_ Estás vendo? É o Boa Nova. Costuma fazer a rota do Cabo. O imediato é meu amigo. Vamos ter com ele. Acabou de entrar na taverna do Sanchez.
Rejubilei!
Quando entrámos na taverna Josias meteu dois dedos à boca e lançou um assobio tão estridente como nunca tinha ouvido! E logo, um homem moreno de peito largo, esticou o pescoço e dirigiu o olhar para nós. Ao ver Josias deu uma enorme gargalhada e avançou rapidamente para um festival de abraços de quebra-ossos, socos amigáveis nos ombros e nos queixos dando ao corpo a alegria de se reverem.
Josias apresentou-me e sentámo-nos os três numa mesa vaga.
Estiveram um ror de tempo a conversar, a rir e a beber enquanto eu, nervoso, esperava com ansiedade a esmola de uma palavra. Não me impacientei porque ao mesmo tempo era fascinante ouvir a conversa dos dois.
Falavam de tempos idos, de lugares conhecidos de ambos, de mulheres de outros lugares e costumes. Percebia-se a cumplicidade deles nas frases por acabar, nos olhares de encontro e nas risadas em coro.
Bartolomeu, era bastante mais novo que Josias, mas isso nada importava. Havia nele uma energia imensa, uma força de derrubar medos. Ao pé dele, sentia-me seguro, quase crescido.
Anunciou que andava à procura de um moço para o navio. O anterior, ficara a viver em África com um tio que era dono de umas plantações.
De repente, Bartolomeu perguntou-me se eu estava interessado em embarcar.
Engasguei-me e espirrei todo o vinho que tinha na boca pelo nariz. Apesar da aflição abanei afirmativamente a cabeça enquanto Josias me dava umas boas palmadas nas costas.

O meu velho amigo piscou-me o olho maliciosamente, sabendo perfeitamente que era um dos meus sonhos. Bartolomeu nem precisou de mais nenhum sinal porque se apercebeu exactamente o que me ia na alma.E combinámos que, no dia seguinte, ele mesmo falaria com o meu pai.

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