sábado, 31 de janeiro de 2009

Telmo, o marujo

Mãe Irene (3ªparte)
- Mas porque fiquei eu tão perturbado com a revelação de Daniel?
- A tua perturbação vem de um reconhecimento longínquo da tua memória. Ela emergiu à superfície confirmando que algo nesta tua existência merece ser revista. Essa sensação de desamparo é o teu orgulho que se recusa a ser dominado, que julgava tudo dominar que acabou por reconhecer a sua fraqueza. É bom. Far-te-á procurar soluções de modo a desenvolver outras qualidades. É necessário ser-se humilde para crescer, Telmo.
Não me apercebo que isso seja orgulho mas, na verdade, incomoda-me pensar que aqueles a quem chamo família, só o sejam por um instante, segundo Daniel, apenas por esta existência!
- É verdade, Telmo. A verdadeira família não é aquela de quem descendes materialmente mas, aquela com quem te identificas espiritualmente. No entanto, se nasceste numa determinada família foi porque só te poderia dar aquilo que necessitavas, ou porque necessitavas de resgatar algum aspecto do teu passado.
Quanto à tua “verdadeira família” vais reconhecê-la quando os encontrares e sentires que eles fazem parte de ti e tu deles. Em qualquer podes encontrar num estranho, num estrangeiro, esse sentimento. Quando tiveres ultrapassado a busca e encontrado o teu caminho. Entre vós não haverá segredos nem desvios de pensamento pois, sereis capazes de escutar e falar o cada um tem para dizer sem qualquer esforço.
- Quem me dera, encontrar assim alguém!
-Guarda então essa esperança…
- Peço-te que não te ofendas, Irene. Mas gostava tanto que fosses minha mãe!
- E sou, meu querido Telmo! Sou a mãe de todos os que me procuram. O meu colo está sempre disponível para quem dele necessita!
- Às vezes, quando estou contigo, sinto-me tão pequenino!...
- Fico contente que te sintas assim. Só mostra que crescerás, que te tornarás Homem e que me recordarás com esse sorriso que agora mesmo desenhaste no teu rosto!
A emoção com que ouvi Irene fez-me aconchegar a ela num choro convulso como nunca me acontecera. De tanto chorar adormeci nos seus braços enquanto ouvia um sussurro: “ Dorme… dorme meu filho e que os teus sonhos sejam o prenúncio de uma nova forma de estar!”

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