quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Telmo, o marujo

3.Explorando a Ilha dos Seguidores

Helena deixou-me só e eu pude explorar o resto da ilha por minha conta.
Andei um bocado à deriva, a falta da referência solar criava-me dificuldades, resolvi então orientar-me pela cúpula do edifício principal que se destacava de tudo o resto. Desci uma rampa que me levou a um portão velho com inscrições enigmáticas, quase escondidas pela enorme vegetação que crescia agarrada a si, ao tactear os relevos, as portadas abriram-se devagar e sem ranger, revelando então um caminho serpenteante que desaguava na estrada marginal. Há tanto tempo que eu não via o mar! Corri, e embora ele tivesse aquela estranha cor violeta, continuava a cheirar como o mar da minha cidade. Inspirei, eufórico a maresia e encantei-me com o vai e vem das ondas chegando cadenciadas à areia rosada e beijando as rochas carinhosamente. Ele convidava-me a entrar nele, mas apesar de tudo senti algum receio em o fazer. Só pretendia ver o mar, matar as saudades que sentia... ao largo, avistei as ilhas de que Helena me falara e verifiquei o quanto era intenso o trânsito entre elas.
Seguidamente, deambulei pela calçada ao longo do mar e reparei nos pequenos aglomerados de casas, eram manchas brancas, azuis, rosas, amarelas, interligadas por ruas estreitas entretecidas como redes. O silêncio confundia-me, somente os animais tinham o direito de se manifestarem com ruído.
Acabei sem me aperceber por entrar numa grande praça. Estaquei de espanto ao deparar com três estátuas descomunais perfiladas num semicírculo. Provavelmente representavam Seguidores importantes ou outras personagens do Passado. Apesar de diferentes entre si, os rostos eram neutros, quase sem expressão. Só o seu tamanho gigantesco me perturbou. À frente delas erguia-se uma espécie de altar construído numa pedra verde e faiscante. Era também proporcional ao tamanho das estátuas o que me fez pensar na dificuldade que teriam os homens em o utilizar. Claro que o mistério desvaneceu-se logo, quando ao rodeá-lo encontrei na parte anterior uma escada móvel feita de madeira vulgar. Não me atrevi a experimentá-la, limitei-me a conjecturar sobre que tipo de cerimónias seriam ali realizadas, senti-me nervoso, tenso, como se estivesse a profanar um lugar sagrado! Afastei-me rapidamente e procurei outro caminho.
Havia um mais abaixo, lajeado de pedras mais escuras e que se internava num parque onde cresciam plantas desconhecidas e árvores exuberantes muito estranhas pois as suas copas enormes eram de cor dourada e paralelas ao solo. Preferi optar por uma ladeira que se abria ao meu lado esquerdo. Estava a ficar cansado de tanto andar! Acabei por atravessar uma ponte e ir dar a um mercado que se assemelhava aos mercados de qualquer mundo, à excepção de que ninguém falava alto. Toda a gente andava de um lado para o outro observando e escolhendo a mercadoria desejada. Caminhei anónimo e só depois me lembrei que aquela gente não falava como eu. Acabei por me divertir com essa situação. Não sabia que tipo de moeda, utilizavam, pois não vi em nenhuma situação, ninguém pagar pelo que levava. Sentei-me num pequeno banco de pedra e um dos tendeiros ao ver-me, ofereceu-me uma bela maçã sorrindo simpaticamente. Titubeei um agradecimento e expliquei-lhe que não tinha dinheiro. O homem assustou-se ao ouvir a minha voz, recuou um bocado e olhou-me com atenção, depois parecendo entender quem eu era, foi a correr buscar também um cacho de uvas purpúreas e insistiu que as aceitasse. Despediu-se de mim fazendo uma festa na minha cabeça com muita ternura. Eu também me despedi acenando-lhe com uma mão enquanto com a outra segurava a generosa oferta.
Já reconfortado voltei à estrada principal até à baía em que havia aportado no primeiro dia. Emocionei-me ao olhar para cima e ao reconhecer a Casa dos Grandes Seguidores.
Agora, aquela era também a minha casa!

Sem comentários: