segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

E Ela disse...

O Mundo em que viviam, o Homem e a Mulher, não era aqui.
Era um mundo distante onde nada fazia perder o equilíbrio idealizado por Deus e a Alma.
Nele, as montanhas erguiam-se florescidas e vigorosas, os rios sulcavam-no em todos os sentidos, os vales espreguiçavam-se de verde e de azul salpicado de pássaros e borboletas que cantavam todas as cores imagináveis.
O Homem e a Mulher não sabiam que faziam parte de um sonho.
Sonho esse que, se podia desfazer apenas, com um pestanejar divino.
Por isso eram inocentes de tudo, nus, satisfeitos com os seus corpos e as suas mentes singelas.
Ambos trocavam com os anjos, os mensageiros de Deus e da Alma, amor e luz! Energias e pensamentos que os entretinham, eram felizes.
Julgavam-se perfeitos!
Acreditavam que tudo o que fora construído era em função de si. Por isso ficaram admirados e curiosos quando Deus impôs o Tabu.
Durante algum tempo respeitaram o Tabu, mais por hábito do que por convicção.
Foi preciso que um anjo acendesse neles a chama da dúvida.
Aí o Homem e a Mulher ergueram-se do seu amorfismo e perguntaram alto:
-“Porquê?”
Silêncio.
Três vezes perguntaram.
Três vezes o eco lhes respondeu.
Foi então que descobriram que estavam dentro de um sonho e que quem sonha pode ouvir os seus personagens mas raramente os seus personagens podem ouvir o seu Criador.
Romperam então as pálpebras e fugiram do sonho de Deus.
De repente os seus corpos tornaram-se pesados e incómodos, passaram a sentir o frio, o arranhar dos espinhos e o penetrar das areias nas rugas da sua pele. Taparam-se!
Deus chamou o Homem e a Mulher, mas como eles estavam tapados da cabeça aos pés não ouviram o chamamento logo à primeira, aparecendo apenas depois da insistência de Deus.
O Homem e a Mulher ficaram envergonhados por terem feito esperar a Deus.
Claro que Deus percebeu de imediato o que se havia passado. Que o Tabu havia sido violado! Por isso se irou e os expulsou de Si.
O Homem e a Mulher passaram a chamar-se apenas homens.
E passaram a viver eternamente, materialmente e perecivelmente humanos.
Embora o temor fosse grande, os homens ciciavam:
-“Porquê?”
Desta vez foi Deus que não os ouviu porque agora era Ele que vivia nos sonhos dos homens, sendo recriado à sua medida.
Parecia não haver mais esperança para Deus e a Alma, e para o Homem e a Mulher. Mas os anjos sentindo-se culpados ofereceram-se para continuar a sua tarefa de mediadores e guias levando a todos a possibilidade de um dia se reconciliarem.
Não sei se foi um anjo que me contou tudo isto, mas que foi assim, foi!

1 comentário:

João Barbosa disse...

então não publicas os comentários?