segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Índia


O cabelo branco perde-se nos ombros caídos
Em curvas sinuosas de meandros alvacentos,
Sulcadas na pele morena e parda da índia sentada.
Ah! Este é o fado dolente dos homens traídos,
Daqueles que já não escondem os lamentos
E que alcançaram por fim o final da estrada!

O fumo do cachimbo sempre aceso evola no ar
Caprichando no seu bailado as formas enleantes,
Espalhando o forte odor no espaço ilimitado.
Ah! Este é o canto que se ouve entoar
Para lá da esperança e sonhos delirantes
Daqueles a quem o percurso da vida foi anunciado!

O filho, o neto, o bisneto não batem já
Seus pés no terreiro de barro vermelho e amarelo.
Estão calçados, parados e ... separados
Dos espíritos coloridos e simples do lado de cá.
Seu mundo tem pintado de negro o cabelo
E vivem a vida de outros homens calados.

Sentada a velha índia já nem ri nem chora,
Suspira leve, como a brisa do azul do mar
E perde o olhar no distante horizonte.
Já não há muito que fazer agora,
É forçoso ficar aqui a descansar
E beber as gotas das memórias da sua fonte.


Esquecidas as mãos magras adormeceram
Sobre o colo, sobre os lenços bordados
De fios cruzados em cores esbatidas.
As suas mãos de mulher já esqueceram
Os gestos de silêncio e de ternura magoado.s.
Ficaram por dizer as histórias de sua vida.

O futuro não fala ainda aos seus jovens
Insinua-se neste presente elaborado
E deambula em si e nos que amaram.
A velha índia não tem mais sorrisos virgens,
Estão guardados nas fotos do seu passado.
E a sua boca já não tem o gosto dos que a beijaram.

Ah! Este é o canto que se ouve entoar
Na planície verde do paraíso esperado,
No ar que cheira a Outono anunciado!
Ah! Este é o fado dolente que se ouve cantar!

In "Sopros"

Sem comentários: